Recentemente, a Polícia Civil abriu um inquérito
contra a dentista Giselle Gomes pelos crimes de estelionato, lesão corporal e
exercício irregular da arte dentária após aplicar substâncias ilegais no rosto
de pacientes. Ela aproveitava a boa fé de seus clientes para frauda-los,
utilizando um material diferente do qual oferecia. Oferecia o Ácido Hialurônico
(AH) e realizava o PMMA. Para entender um pouco mais sobre este procedimento,
nós conversamos com a cirurgiã dentista Priscila Martelli, que repudiou as atitudes
da profissional.
Qual o objetivo desta dentista em trocar os materiais? "Simples, o PMMA é 20 vezes mais barato que o AH. Esta substância é uma espécie de resina acrílica utilizada para preenchimentos faciais e corporais. Essa substância foi inserida na área estética inicialmente para o preenchimento facial de pacientes soropositivos acometidos pela lipodistrofia, um efeito colateral do coquetel antirretroviral utilizado no passado. A lipodistrofia é uma condição que diminui o tecido de gordura facial e em contrapartida gera o acúmulo em outras regiões, como a abdominal e dorsal. De acordo com a ANVISA, o uso do PMMA é liberado para restaurar pequenos volumes, porém, independente da quantidade, essa substância gera um risco potencial de desenvolver alergia, rejeição, nódulos, inflamação, necrose tecidual e resultados inestéticos permanentes, tendo em vista ser um material definitivo, ou seja: não é absorvido pelo organismo humano.
O fato de ser um implante definitivo atrai muitos pacientes com a ilusão de ter uma solução definitiva para suas queixas, porém, o que elas não imaginam é que após alguns anos o PMMA passará a sofrer com a lei da gravidade e a partir daí o implante começa a ceder. Com o intuito de amenizar a distorção gerada pela queda do material, os profissionais preenchem mais a região afetada, que continua a cair, virando uma bola de neve. Supostamente este é o caso de algumas pessoas públicas, tais como Gretchen, Donatella Versace, Roberta Close e Eduardo Costa".
Priscilla diz que alguns casos de intercorrências com PMMA já foram relatados na mídia, como o caso da bancária Lilian Calixto que foi a óbito devido a uma embolia pulmonar gerada pela aplicação de PMMA em glúteos. O famoso caso realizado pelo médico Denis Furtado, o “Dr. Bumbum”.
"O uso do PMMA foi amplamente utilizado antes do advento do Ácido Hialurônico e ainda hoje é utilizado por se tratar de um material extremamente barato, porém, extremamente perigoso. No caso das 40 mulheres que tiveram suas faces deformadas pelo material, o que fazer? Para a remoção dessa substância é necessário passar por um procedimento cirúrgico, porém a sua retirada nem sempre é possível, pois o PMMA se difunde entre os tecidos e em alguns casos a área pode ficar irregular devido a incompleta remoção do material.
O Ácido Hialurônico (AH), por sua vez, é hoje o material mais seguro para a realização de preenchimentos. Essa substância participa da composição da pele humana e também é encontrada nas articulações onde tem a função de lubrificação. Por ser encontrado naturalmente no organismo humano, o AH é considerado altamente biocompatível com os tecidos e por isso o risco de desenvolver alergia ou rejeição é infinitamente pequeno.
Além disso, um preenchimento realizado com AH é um procedimento totalmente reversível, primeiro porque ele é absorvido pelo organismo em torno de 1 ano após a sua aplicação e segundo porque ele pode ser degradado por uma enzima se caso o paciente não gostar do resultado ou se caso acontecer alguma intercorrência como uma alergia.", disse.